Executivo

Ex-diretor da Petrobras rebate versão de Dilma e Graça sobre Pasadena

Processo já está em fase de conclusão.

Valor Econômico
17/04/2014 14:40
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O relato feito ontem pelo ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, em audiência na Câmara, pode ter dispensado o uso de declarações bombásticas, mas conseguiu confrontar dois pontos fundamentais da tese do Palácio do Planalto sobre o processo de aquisição da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). O primeiro diz respeito às cláusulas "put" e "marlim" que a presidente Dilma Rousseff disse que desconhecia quando aprovou a compra da refinaria pela Petrobras, em 2006. Cerveró tratou de esvaziar a relevância dada às cláusulas incluídas no contrato. Aquilo que Dilma classificou como erro central para levou ao desfecho do negócio foi chamado de condições "absolutamente comuns" a todos os contratos da Petrobras e, segundo Cerveró, não tinha razões para barrar a assinatura do acordo com a sócia Astra Oil, porque não eram "lesivas" à Petrobras. "Essas cláusulas, na avaliação que nós fizemos, não têm representatividade no negócio. E não era importante, do ponto de vista negocial, nem uma cláusula, nem outra", disse, acrescentando que a cláusula put valia não apenas para a Astra, mas também para a Petrobras. Ele não explicou, porém, se a multa de 20% sobre o valor da put que foi usado pela sócia belga também tinha validade para a estatal brasileira.
O segundo golpe na estratégia de defesa do governo diz respeito à responsabilidade exclusiva de Cerveró sobre a omissão das cláusulas no resumo executivo, conforme alegou Dilma. Ele disse que entregou um contrato com 450 páginas sobre a aquisição e seu resumo executivo de uma página e meia para a diretoria colegiada da estatal. Nesse contrato constavam as cláusulas put e marlim que a presidente Dilma Rousseff disse desconhecer à época. Ele alegou que a responsabilidade de apresentar o contrato ao conselho da estatal - que à época era presido por Dilma - não era sua, mas sim da diretoria-geral da Petrobras. Na prática, o executivo jogou o ônus da culpa sobre o ex-presidente José Sérgio Gabrielli e os demais membros da diretoria. "Não sei se [o contrato] foi apresentado. Dai em diante é a diretoria que encaminha ao colegiado. Não sei se ela fez isso", disse Cerveró. "Fazer o conselho tomar conhecimento das cláusulas não era a responsabilidade de uma diretoria individualmente."
Procurado pelo Valor, o ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, não respondeu ao pedido de entrevista até o fechamento desta edição.
Em 2006, a aquisição da primeira metade de Pasadena foi motivo de festa no Texas. No evento, Gabrielli foi recebido pelo governador do Estado americano para comemorar o negócio. À época, a diretoria executiva da estatal era formada por Gabrielli (presidente), Almir Guilherme Barbassa (diretor financeiro e de relações com Investidores), Renato de Souza Duque (diretor de serviços), Guilherme de Oliveira Estrella (diretor de exploração e produção), Ildo Luís Sauer (diretor de gás e energia) e o próprio Nestor Cerveró, como diretor internacional. A lista incluía ainda o então diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa, preso no mês passado pela Polícia Federal com a Operação Lava Jato. Ele é acusado de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, investigado por chefiar um suposto esquema de lavagem de dinheiro na Petrobras.
O conselho de administração da estatal, que à época era presidido por Dilma, tinha a participação de Silas Rondeau Cavalcanti Silva, Guido Mantega, Sérgio Gabrielli, Gleuber Vieira, Arthur Antonio Sendas, Roger Agnelli, Fábio Colletti Barbosa e Jorge Gerdau.
Ao contrário do alegado por Dilma e Jorge Gerdau, Gabrielli já deixou claro que tinha conhecimento das cláusulas incluídas no contrato de Pasadena. "Vamos deixar claro que essa posição não é só minha. É do conselho que aprovou esse projeto. Não existem decisões individuais nem da diretoria, nem do conselho. Foi tudo baseado em uma série de um trabalho e consultorias realizadas em mais de um ano", disse Cerveró.
Durante a audiência, Cerveró chegou a se emocionar e disse que não teve a intenção de enganar Dilma ou outro membro do conselho. "De forma nenhuma", declarou. "Eu apresentei um trabalho que foi desenvolvido há mais de um ano para a aquisição dessa refinaria. Não houve intenção de enganar ninguém. Isso fica claramente demonstrado", afirmou.
O executivo buscou afastar acusações de que sua chegada à diretoria internacional seria resultado de apadrinhamento político. Destacou que atuou na companhia por 39 anos e que era concursado. "Fui indicado à diretoria da Petrobras por minha capacitação e minha competência." Também tentou atenuar a razão de sua saída da diretoria financeira da BR Distribuidora no mês passado, assim que as declarações da presidente Dilma vieram a público. Cerveró estava de férias quando soube de sua demissão. "Se fosse por causa de Pasadena, teria que ter sido feita seis, sete anos atrás."
Na terça-feira, em audiência no Senado, Graça Foster chegou a dizer que a mudança de cargo de Cerveró, em 2008, da diretoria internacional da Petrobras para a diretoria financeira da BR levou a uma perda de prestígio do funcionário por conta da omissão das cláusulas do resumo executivo de Pasadena. "Em nenhum momento me senti desmerecido por isso", disse Cerveró ao negar que tivesse sofrido uma "punição".
Pasadena já causou um rombo de quase US$ 2 bilhões nas contas da Petrobras. Ao custo total de US$ 1,245 bilhão que a estatal acabou desembolsando pela compra total da refinaria e sua trading, somam-se investimentos que a petroleira fez na refinaria desde 2006, o que já custou mais US$ 685 milhões. Trata-se, portanto, de um aporte total de US$ 1,930 bilhão.
Apesar do prejuízo, Cerveró defendeu que o negócio foi bom para a Petrobras quando foi realizado. Para a oposição, as declarações do executivo só serviram para turbinar a necessidade de criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar o caso. Houve bate-boca durante a audiência, com provocações da base aliada, que defende a criação de uma CPI ampla para investigar obras do metrô em São Paulo e em Suape, em Pernambuco. "O processo de apuração pela CPI é muito mais amplo o que proporciona a revelação da verdade por inteiro", disse o deputado Mendonça Filho (DEM-PE), líder dos Democratas.
Questionado sobre um parecer do procurador Marinus Marsico, do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), que em 2012 levantou suspeitas sobre a compra de Pasadena, Cerveró disse que o procurador não conhece os números de Pasadena. Um ano atrás, Marsico declarou que a aquisição lesou o país. "Pedi informações detalhadas à Petrobras e analisei com o máximo cuidado. As informações só reforçaram a minha convicção de que [a compra da refinaria] foi um ato antieconômico, uma decisão que lesou o país e a empresa", disse Marsico, à época, ao Valor. O processo já está em fase de conclusão.

O relato feito ontem pelo ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, em audiência na Câmara, pode ter dispensado o uso de declarações bombásticas, mas conseguiu confrontar dois pontos fundamentais da tese do Palácio do Planalto sobre o processo de aquisição da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). O primeiro diz respeito às cláusulas "put" e "marlim" que a presidente Dilma Rousseff disse que desconhecia quando aprovou a compra da refinaria pela Petrobras, em 2006. Cerveró tratou de esvaziar a relevância dada às cláusulas incluídas no contrato. Aquilo que Dilma classificou como erro central para levou ao desfecho do negócio foi chamado de condições "absolutamente comuns" a todos os contratos da Petrobras e, segundo Cerveró, não tinha razões para barrar a assinatura do acordo com a sócia Astra Oil, porque não eram "lesivas" à Petrobras. "Essas cláusulas, na avaliação que nós fizemos, não têm representatividade no negócio. E não era importante, do ponto de vista negocial, nem uma cláusula, nem outra", disse, acrescentando que a cláusula put valia não apenas para a Astra, mas também para a Petrobras. Ele não explicou, porém, se a multa de 20% sobre o valor da put que foi usado pela sócia belga também tinha validade para a estatal brasileira.

O segundo golpe na estratégia de defesa do governo diz respeito à responsabilidade exclusiva de Cerveró sobre a omissão das cláusulas no resumo executivo, conforme alegou Dilma. Ele disse que entregou um contrato com 450 páginas sobre a aquisição e seu resumo executivo de uma página e meia para a diretoria colegiada da estatal. Nesse contrato constavam as cláusulas put e marlim que a presidente Dilma Rousseff disse desconhecer à época. Ele alegou que a responsabilidade de apresentar o contrato ao conselho da estatal - que à época era presido por Dilma - não era sua, mas sim da diretoria-geral da Petrobras. Na prática, o executivo jogou o ônus da culpa sobre o ex-presidente José Sérgio Gabrielli e os demais membros da diretoria. "Não sei se [o contrato] foi apresentado. Dai em diante é a diretoria que encaminha ao colegiado. Não sei se ela fez isso", disse Cerveró. "Fazer o conselho tomar conhecimento das cláusulas não era a responsabilidade de uma diretoria individualmente."

Procurado pelo Valor, o ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, não respondeu ao pedido de entrevista até o fechamento desta edição.

Em 2006, a aquisição da primeira metade de Pasadena foi motivo de festa no Texas. No evento, Gabrielli foi recebido pelo governador do Estado americano para comemorar o negócio. À época, a diretoria executiva da estatal era formada por Gabrielli (presidente), Almir Guilherme Barbassa (diretor financeiro e de relações com Investidores), Renato de Souza Duque (diretor de serviços), Guilherme de Oliveira Estrella (diretor de exploração e produção), Ildo Luís Sauer (diretor de gás e energia) e o próprio Nestor Cerveró, como diretor internacional. A lista incluía ainda o então diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa, preso no mês passado pela Polícia Federal com a Operação Lava Jato. Ele é acusado de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, investigado por chefiar um suposto esquema de lavagem de dinheiro na Petrobras.

O conselho de administração da estatal, que à época era presidido por Dilma, tinha a participação de Silas Rondeau Cavalcanti Silva, Guido Mantega, Sérgio Gabrielli, Gleuber Vieira, Arthur Antonio Sendas, Roger Agnelli, Fábio Colletti Barbosa e Jorge Gerdau.

Ao contrário do alegado por Dilma e Jorge Gerdau, Gabrielli já deixou claro que tinha conhecimento das cláusulas incluídas no contrato de Pasadena. "Vamos deixar claro que essa posição não é só minha. É do conselho que aprovou esse projeto. Não existem decisões individuais nem da diretoria, nem do conselho. Foi tudo baseado em uma série de um trabalho e consultorias realizadas em mais de um ano", disse Cerveró.

Durante a audiência, Cerveró chegou a se emocionar e disse que não teve a intenção de enganar Dilma ou outro membro do conselho. "De forma nenhuma", declarou. "Eu apresentei um trabalho que foi desenvolvido há mais de um ano para a aquisição dessa refinaria. Não houve intenção de enganar ninguém. Isso fica claramente demonstrado", afirmou.

O executivo buscou afastar acusações de que sua chegada à diretoria internacional seria resultado de apadrinhamento político. Destacou que atuou na companhia por 39 anos e que era concursado. "Fui indicado à diretoria da Petrobras por minha capacitação e minha competência." Também tentou atenuar a razão de sua saída da diretoria financeira da BR Distribuidora no mês passado, assim que as declarações da presidente Dilma vieram a público. Cerveró estava de férias quando soube de sua demissão. "Se fosse por causa de Pasadena, teria que ter sido feita seis, sete anos atrás."

Na terça-feira, em audiência no Senado, Graça Foster chegou a dizer que a mudança de cargo de Cerveró, em 2008, da diretoria internacional da Petrobras para a diretoria financeira da BR levou a uma perda de prestígio do funcionário por conta da omissão das cláusulas do resumo executivo de Pasadena. "Em nenhum momento me senti desmerecido por isso", disse Cerveró ao negar que tivesse sofrido uma "punição".

Pasadena já causou um rombo de quase US$ 2 bilhões nas contas da Petrobras. Ao custo total de US$ 1,245 bilhão que a estatal acabou desembolsando pela compra total da refinaria e sua trading, somam-se investimentos que a petroleira fez na refinaria desde 2006, o que já custou mais US$ 685 milhões. Trata-se, portanto, de um aporte total de US$ 1,930 bilhão.

Apesar do prejuízo, Cerveró defendeu que o negócio foi bom para a Petrobras quando foi realizado. Para a oposição, as declarações do executivo só serviram para turbinar a necessidade de criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar o caso. Houve bate-boca durante a audiência, com provocações da base aliada, que defende a criação de uma CPI ampla para investigar obras do metrô em São Paulo e em Suape, em Pernambuco. "O processo de apuração pela CPI é muito mais amplo o que proporciona a revelação da verdade por inteiro", disse o deputado Mendonça Filho (DEM-PE), líder dos Democratas.

Questionado sobre um parecer do procurador Marinus Marsico, do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), que em 2012 levantou suspeitas sobre a compra de Pasadena, Cerveró disse que o procurador não conhece os números de Pasadena. Um ano atrás, Marsico declarou que a aquisição lesou o país. "Pedi informações detalhadas à Petrobras e analisei com o máximo cuidado. As informações só reforçaram a minha convicção de que [a compra da refinaria] foi um ato antieconômico, uma decisão que lesou o país e a empresa", disse Marsico, à época, ao Valor. O processo já está em fase de conclusão.

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